O Grupo de Teatro Comunitário de São Luís junta-se para criar um espectáculo imersivo na Herdade do Cerro onde grande parte dos habitantes de São Luís trabalharam durante décadas para os lavradores e herdeiros desta propriedade.
Ao longo de seis meses de trabalho acompanhamos o processo e transformação de uma peça de teatro desenvolvida pelos actores comunitários. É feita uma pesquisa profunda – através de entrevistas a ex-trabalhadores do “Cerro”, muitos deles residentes na Casa do Povo de São Luís – sobre as condições de trabalho daquele tempo e as dificuldades socioeconómicas criadas pela desigualdade territorial de um Alentejo infértil. A miséria diminuiu, mas a marca emocional provocada pela escassez continua presente dentro dos alentejanos. O calor abrasador; o isolamento sem rede de transportes, a falta de perspectivas profissionais, a pouca oferta de actividades para ocupação dos tempos livres, são algumas das questões que ainda estão por resolver neste território vasto, mas ainda desertificado.
Nascem três grupos de trabalho que se encontram regularmente ao longo da construção do projecto; o grupo de teatro comunitário de São Luís – o presente –, os residentes da Casa do Povo de São Luís – o passado –, e o grupo de jovens – o futuro.
O contraste entre a leveza de espírito das crianças e o peso que os adultos carregam às contas com o passado. O Homem e a Mulher como seres ambíguos, ora cruéis, ora gentis.
A Herdade do Cerro – um arquétipo das grandes propriedades em actividade ao longo da ditadura – serve de palco itinerante para a dramaturgia simbólica e realista deste espectáculo. A imponência dos hectares férteis que assinalam a discrepância entre as grandes posses dos privados, e a miséria em que a maioria da população vivia, totalmente dependente das necessidades sazonais de mão-de-obra destes donos, destas terras.
A aridez de oportunidades da classe operária rural que, com a devida distância, tem paralelo na resistência que a classe artística e cultural encontra – ainda nos dias de hoje – para implementar projectos como este que aborda temas sensíveis, mas comuns a todos.
Entre ensaios, almoços, conversas e discussões, os participantes do Grupo de Teatro Comunitário de São Luís confrontam-se com mágoas antigas e afectos intemporais enquanto tentam responder à pergunta: o tempo cura?
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