No Alentejo, poucas expressões da cultura popular são tão enraizadas como a gastronomia — e dentro dela, as açordas e as migas ocupam um lugar absolutamente central. Comum a todas as classes sociais, a todas as épocas e a todas as regiões da província, este par de pratos representa uma cozinha profundamente identitária, marcada pela simplicidade, pela memória e por um saber-fazer ancestral.
Nesta atividade conduzida por Ana de Albuquerque Piedade, em Baleizão, vamos mergulhar nas raízes históricas e culturais destes pratos emblemáticos. A açorda, de tradição milenar, parece remontar ao período pré-romano, afirmando-se durante a ocupação romana e refinando-se com a influência árabe, altura em que era conhecida como «tharîd», uma sopa feita com pão esfarelado, ervas, azeite e água — um alimento humilde que, paradoxalmente, atingiu grande prestígio na mesa árabe. Já as migas alentejanas, muitas vezes confundidas com açordas noutras regiões do país, resultam de uma transformação engenhosa do pão duro, incorporando gordura, alho, pimentão e carnes de porco, num prato de campo que é também de festa.
Existem múltiplas variantes regionais — do Norte ao Baixo Alentejo — e inúmeros modos de preparação domésticos e pastoris, evocando práticas culinárias que cruzam séculos e civilizações. Entre receitas e relatos, esta será uma viagem saborosa pela história alimentar do Alentejo, em que se revelam não só técnicas culinárias, mas também modos de vida e visões do mundo.
Uma proposta para todos os que se interessam por história, cultura e gastronomia tradicional — e para quem deseja redescobrir a açorda e as migas como verdadeiros patrimónios identitários vivos.
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